Mais de 2 mil doses de fomepizol, antídoto contra metanol, chegam a Guarulhos e começam a ser distribuídas aos estados
09/10/2025
(Foto: Reprodução) Mais de 2 mil doses de fomepizol chegam no centro de distribuição do Ministério da Saúde em Guarulhos
Luiza Vaz/TV Globo
Mais de 2 mil doses de fomepizol, antídoto usado para tratar casos de intoxicação por metanol, chegaram nesta quinta-feira (9) ao centro de distribuição do Ministério da Saúde, em Guarulhos, Região Metropolitana de São Paulo.
Ao todo, o Ministério da Saúde comprou 2.500 doses junto com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Conforme o Ministério, 288 doses serão encaminhadas aos hospitais paulistas ainda nesta quinta para tratar pacientes. Na sexta-feira (10), todos os outros estados, com casos suspeitos ou não, também irão receber doses. Veja como será a distribuição:
São Paulo: 288 doses
Paraná: 84 doses
Pernambuco: 68 doses
Mato Grosso do Sul: 20 doses
Goiás: 52 doses
Ceará: 64 doses
Rio Grande do Sul: 80 doses
Espírito Santo: 28 doses
Rio de Janeiro: 120 doses
Piauí: 24 doses
Minas Gerais: 152 doses
Bahia: 104 doses
Acre: 16 doses
Distrito Federal: 20 doses
Mato Grosso: 28 doses
Paraíba: 28 doses
Rondônia: 28 doses
Alagoas: 16 doses
Amapá: 24 doses
Amazonas: 16 doses
Maranhão: 32 doses
Pará: 48 doses
Rio Grande do Norte: 60 doses
Roraima: 24 doses
Santa Catarina: 56 doses
Sergipe: 16 doses
Tocantins: 16 doses
Ainda conforme o órgão, mil doses vão permanecer no galpão do centro de distribuição para serem encaminhadas aos hospitais quando necessário.
O fomepizol será usado apenas sob acompanhamento médico, seguindo a norma técnica do Ministério da Saúde que determina: "o medicamento será prescrito para pacientes que chegarem aos serviços de saúde com sintomas clínicos depois intoxicação, que tenham ingerido destilados no intervalo entre 6 e 72h e que apresentarem alterações em dois exames laboratoriais".
Além do fomepizol, o SUS vai continuar usando o etanol como antídoto.
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Divulgação
O tratamento deve começar assim que houver suspeita de contaminação, sem necessidade de confirmação laboratorial.
“Os médicos não precisam esperar a confirmação de ser uma intoxicação por metanol. Com base na história clínica e no quadro do paciente, já podem iniciar o tratamento com o antídoto”, destaca Fabiana Sanches, diretora de Assuntos Médicos da Daiichi Sankyo Brasil, representante da farmacêutica.
O protocolo inclui uma dose de ataque, seguida por doses menores a cada 12 horas, totalizando quatro aplicações principais.
“Ele vai receber a dose de ataque, com um volume um pouco maior, e as doses subsequentes, até quatro doses com 12 horas de intervalo. A manutenção vai depender do quadro clínico do paciente e, se possível, dos níveis de metanol no sangue”, explicou.
A melhora costuma ocorrer dentro de 48 horas, conforme o organismo elimina o metanol. Em casos graves, o tratamento pode ser combinado com diálise, para acelerar a eliminação da substância.
Como a medicação age
O fomepizol atua bloqueando a enzima álcool desidrogenase, responsável por transformar o metanol em substâncias altamente tóxicas ao organismo, como o formaldeído e o ácido fórmico.
Essas substâncias são as principais responsáveis pelos efeitos graves da intoxicação, que incluem cegueira, danos neurológicos e falência de órgãos.
“Todo o problema do metanol é o metabólito dele, que é transformado no fígado. O fomepizol atua inibindo essa enzima que faz a transformação do metanol nessas substâncias tóxicas. Com isso, o metanol permanece intacto na circulação e é eliminado pelos rins”, explicou Sanches.
Segundo a diretora de Assuntos Médicos, o fomepizol é um antídoto mais eficaz do que o etanol farmacêutico, usado atualmente em hospitais como alternativa temporária no Brasil.
“O fomepizol tem uma ligação mais potente com essa enzima, competindo de forma mais eficaz. Por isso ele é o antídoto específico para o metanol, enquanto o etanol não é”, disse.
Casos no estado de SP
O número de mortes confirmadas por intoxicação por bebida alcoólica "batizada" com metanol no estado de São Paulo subiu para cinco, segundo boletim divulgado pelo governo nesta quarta-feira (8).
Até esta terça-feira (7), eram três mortes confirmadas pelo governo do estado. As duas novas confirmações são de óbitos que ocorreram em 25 e 28 de setembro.
Marcos Antônio Jorge Júnior, Bruna Araújo e Marcelo Lombardi são três dos cinco mortos confirmados por ingestão de bebida alcoólica com metanol.
Reprodução/TV Globo
Os cinco mortos são:
Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, morador da cidade de SP
Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos, morador da cidade de SP
Marcelo Lombardi, de 45 anos, morador da cidade de SP
Bruna Araújo, de 30 anos, moradora de São Bernardo do Campo
Daniel Antonio Francisco Ferreira, de 23 anos, morador de Osasco
Protocolo padrão
Como as primeiras horas são decisivas para salvar vidas, a Secretaria da Saúde de São Paulo orientou um protocolo padrão para os pacientes que procuram as unidades de saúde com sintomas persistentes ou piora, após consumo de bebidas destiladas. Entre os sintomas, estão:
Sonolência
Tontura
Dor abdominal
Náuseas
Vômitos
Confusão mental
Taquicardia
Visão turva
Fotofobia
Convulsões
Destruição de garrafas
A Justiça paulista autorizou a destruição imediata de 100 mil vasilhames apreendidos no inquérito que apura responsabilidades pela adulteração de bebidas. A solicitação feita pela Polícia Civil foi autorizada pelo juiz Lucas Bannwart Pereira, do Fórum Criminal Barra Funda do Tribunal de Justiça de São Paulo.
No despacho, o magistrado destaca que os milhares de recipientes foram encontrados em uma suposta empresa de recicláveis que comercializava garrafas de diferentes bebidas destiladas sem controle sanitário, de origem ou de destinação, além de não realizar procedimentos de higienização.
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